domingo, 4 de outubro de 2009

FMI dá mais um passo na cessão de poder a países em desenvolvimento

Por César Muñoz Acebes. Istambul (Turquia), 4 out (EFE).

A cessão de poder aos países em desenvolvimento nas estruturas econômicas internacionais deu hoje um novo passo, com o compromisso dos países-membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) de colocar fim ao controle europeu da chefia deste organismo.O Comitê Monetário e Financeiro Internacional, que representa os 186 países-membros do FMI, prometeu aprovar em abril um novo processo de seleção dos diretores da entidade, que será "aberto, baseado no mérito e transparente".
Desde sua fundação, em 1944, todos os diretores-gerentes do Fundo foram europeus, enquanto o "número dois" foi americano. Em troca, os Estados Unidos se reservaram a designação do presidente do Banco Mundial.Esse é um acordo tácito entre os dois máximos acionistas das instituições, contra o que os países em desenvolvimento protestam há anos.
A declaração do Comitê, realizada ao final de sua reunião semestral, significa que, pela primeira vez em sua história, o próximo diretor-gerente do FMI poderá não ser europeu, confirmou à Agência Efe uma fonte da entidade.O Comitê se reuniu em um centro de convenções na parte europeia de Istambul.A reunião aconteceu uma semana depois de o Grupo dos Vinte (G20, os países ricos e os principais emergentes) se consolidar como o fórum de coordenação econômica mais importante mundo, em substituição ao Grupo dos Oito (G8), dos países desenvolvidos e da Rússia.
Os países em desenvolvimento conseguiram mais que isso na cúpula de Pittsburgh (EUA), ao ganhar o apoio do G20 de transferir "pelo menos" 5% do voto no FMI para os países ricos sub-representados.
Na prática, isso significa uma cessão de voto da Bélgica, Suíça e possivelmente Reino Unido e França, por exemplo, a países como Brasil, China, México, Índia e Rússia.
Hoje, os outros 166 membros do Fundo expressaram seu acordo com o sugerido pelo G20 por meio do Comitê Monetário e Financeiro Internacional, que apoiou a proposta em sua declaração.
O ministro da Economia brasileiro, Guido Mantega, insistiu hoje em seu discurso diante do Comitê em que 5% são o mínimo, e demandou que se ceda 7% do voto. Isso dividiria o poder a 50% entre países avançados e em desenvolvimento dentro do FMI."Esperamos que os países avançados super-representados percebam que podem prejudicar muito o Fundo se tentarem bloquear ou adiar a reforma", disse Mantega.
O diretor-gerente do organismo, o francês Dominique Strauss-Kahn, ressaltou em entrevista coletiva posterior à reunião do Comitê que uma transferência de 5% "não seria mal" e se acrescentaria ao 2,7% aprovado no ano passado.As mudanças no G20 e no FMI são um reflexo de uma grande mudança na estrutura econômica mundial, que ficou especialmente evidente durante a crise, gerada nos países ricos.
As nações em desenvolvimento ajudam o resto do mundo a sair da recessão com seu aumento atual e demandam uma influência nos órgãos de poder em consonância com seu novo peso econômico.
Além disso, são a chave para um crescimento mais equilibrado no futuro, já que o mundo "não poderá confiar tanto na despesa americana para impulsionar o crescimento", disse hoje na sessão do Comitê o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner.
Para isso, a China, especialmente, deverá promover a demanda interna e importar mais. Em troca, os países em desenvolvimento querem mais representação e a possibilidade de colocar um dos seus na chefia do FMI

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