terça-feira, 11 de agosto de 2009

Alunos cubanos são melhores que os brasileiros porque seus professores sabem mais, diz pesquisador dos EUA.

Por Simone Harnik.

Avaliações internacionais revelam que o desempenho de estudantes cubanos em matemática e linguagem é bastante superior ao dos brasileiros. E, segundo o pesquisador da Universidade de Stanford Martin Carnoy, há uma razão para essa performance diferenciada na ilha de Fidel: lá a qualificação dos docentes é melhor e o envolvimento, maior.

"A causa principal [para Cuba se destacar nas provas] é que os professores têm mais domínio da disciplina e têm uma clara ideia de como ensiná-la", afirmou o pesquisador ao UOL Educação.Carnoy estudou as diferenças nos sistemas de ensino do Brasil, de Cuba, e do Chile. Os resultados foram sintetizados no livro "A vantagem acadêmica de Cuba", publicado no Brasil pela Ediouro em parceria com a Fundação Lemann. Durante a última semana, o acadêmico ministrou palestras divulgando o trabalho no país. O pesquisador norte-americano Martin Carnoy, em palestra da Fundação Lemann, na Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), na última quarta-feira (5)A boa formação do magistério em Cuba é traduzida em alta cobrança aos estudantes - e isso cria um círculo virtuoso, já que os melhores alunos acabam se tornando professores no futuro. "Tudo isso acontece, porque o sistema apoia o professor, ensinando-o a lecionar", diz.Segundo o norte-americano, no Brasil, a maior parte dos docentes não é formada nas melhores universidades - que, por sua vez, pouco abordam a didática das disciplinas. "Os professores brasileiros não são ensinados a ensinar o currículo. Eles estudam teorias e têm de aprender a lecionar na prática, o que não é um bom método", avalia.
Diretores envolvidos
Além disso, a função do diretor da instituição de ensino em Cuba, afirma o pesquisador, é bem definida: "Ele é responsável pelo nível de instrução de cada estudante. Os diretores sabem exatamente o que cada aluno está aprendendo, sabem o que acontece na escola e com a família". "No Brasil, este papel não é claro. Raramente os diretores visitam as salas de aula", acrescenta.E o trabalho desse gestor na ilha é beneficiado pelo rigor de um conteúdo programático centralizado. "Em Cuba, não há diversidade no currículo. Em qualquer lugar do país, os estudantes devem aprender a mesma matéria ao mesmo tempo. Isso não acontece no Brasil, há muita diversidade nos currículos", opina.A abertura no currículo e a falta de rigor sobre o que deve ser ensinado tornam-se mais preocupantes, associados ao fato de que os alunos brasileiros são dispersos e menos solicitados a realizarem exercícios individuais ou coletivos durante as aulas - eles passam pouco tempo em cada tarefa. Em seu estudo de campo, Carnoy verificou isso filmando aulas de matemática nos dois países."Os estudantes cubanos recebem uma folha para resolverem problemas. Depois do trabalho, eles discutem de verdade os erros. No Brasil, ainda há professores que passam a matéria na lousa. Os alunos são chamados para resolverem no quadro-negro e, se erram, os professores apagam e não debatem", relata. "É possível mudar essa situação, o que vai exigir muito esforço e vontade política."
Contexto Social
O contexto social, de acordo com Carnoy, é outro fator relevante na análise das notas. "Cuba é uma sociedade centralizada e há grande ênfase na educação. O Estado garante que as crianças recebam uma boa educação e saúde", aponta.O cuidado com a saúde cubano leva ainda a uma nutrição mais vigorosa do corpo discente. Além disso, diz Carnoy, em Cuba praticamente não existe trabalho infantil e violência escolar. As crianças estudam em um ambiente mais seguro e menos desigual que o brasileiro."O contexto social em Cuba é muito melhor para as crianças com baixa renda. No Brasil, 40% dos pobres ou muito pobres vivem em condições muito difíceis para aprenderem", diz. Mas, não, Carnoy não apoia o regime político fechado e autoritário da ilha. "Valorizo a liberdade, e esta é uma questão a se pensar. Vivo em uma sociedade que é muito desigual - 25% das crianças norte-americanas vivem na pobreza e não têm liberdades. Já, em Cuba, os adultos têm poucas liberdades, mas as crianças têm o direito de crescerem saudáveis", relativiza.
Fonte: Uol Educação

4 comentários:

  1. Há 4 anos, estive em Cuba. Interessante notar que a educação lá parece melhor do que a nossa.Durante um passeio pelo centro de Havana, cruzei com muitos grupos de estudantes, guiados por seus professores, visitando monumentos históricos, museus e outras instituições. Aqui no Brasil não vejo grupos assim com frequencia. Visitando o museu da Revolução, conheci um menino nativo de uns 13 anos. Estava desacompanhado, observava os objetos expostos e fazia anotações em um caderno. Aproveitando-se da pouca vigilância, aproximou-se de mim e ofereceu serviços de guia. Papagueou toda a história da Revolução comunista na Ilha à medida que entrávamos e saíamos das salas. No final, já lá fora, contou-me que estudava numa escola rural, tempo integral, e que aquela era uma semana em que fora liberado para visitar a família e para fazer pesquisas escolares nas bibliotecas de Havana. Disse que os pais eram médicos, e isso me chocou um pouco, pois vestia-se muito pobremente e tinha aparência desnutrida. Disse que os pais trabalhavam 12 horas por dia e ganhavam 40 dólares mensais cada um, o maior salário pago na Ilha. Se alimentavam com vales distribuídos pelo governo e moravam em um cortiço apinhado de gente. Enquanto falava demonstrava receio de ser surpreendido por algum agente do governo, já que Fidel proibia os cubanos de se aproximarem dos turistas. Pediu-me 1 dólar pelos seus serviços. No momento em que o paguei, fomos flagrados por um policial a paisana. Depois de passar vistas em meu passaporte, fui liberado. O menino foi levado detido.

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  2. Meio triste a experiência do Luiz Leite com o menino cubano.

    Sobre a questão da educação, essa parte da notícia é interessante: "e isso cria um círculo virtuoso, já que os melhores alunos acabam se tornando professores no futuro.".
    Pergunta numa sala de aula aqui no Brasil quantos alunos querem ser professor? Além de tantas outras coisas, a profissão muitas vezes não é valorizada pelo aluno e muito menos pelas autoridades. Lamentável.

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  3. Luiz, realmente essa experiência nos mostra que existe um outro lado da moeda na educação cubana.
    Precisamos urgentemente cuidar da educação do Brasil a começar pela básica, a fim de formarmos cidadãos mais conscientes do seu papel no mundo.

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